terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Levei um tempo para ler você, Clarice Lispector

Algo me dizia (no íntimo) que identificaria com suas palavras. Afinal elas estão repletas de atos, de sentimentos, de um mundo, de desejos...
Preferi, antes de tudo, ver seus poemas no youtube e sua entrevista. Nossa... Em sua entrevista você se dizia alegre, que estava apenas cansada e não triste.
Mas senti em sua face uma profunda tristeza, dor sem fim. Não creio estar enganada. Afinal, mulheres além de seu tempo sofrem com a dor de “serem julgadas” por sua vida atemporal.
Não posso dizer que nunca a li. Li “A hora da estrela” e lembro exatamente quando você diz que é melhor coser para dentro que para fora. Uau! Que frase! Quando li tinha apenas 14 anos e, mesmo sendo amante das letras, não a compreendi direito. Só senti o que sempre ficou em meu coração: sentimentos!


Agora, “cá estou eu”, lendo “Correio Feminino” e, honestamente, sentindo que você figura uma imagem feminina que vai de encontro a uma perfeita dona de casa. 

Precisei ler alguns dos seus estudiosos para perceber que não é preconceito, mas uma reconfiguração da ‘mulher feminina’. Você diz toda uma verdade que, mulheres como eu, hesitam em aceitar, mas reconhecem que é importante e necessário.

Quero lê-la! 
Fonte:

Fonte:

Ler por entre seus olhos, sua face... Você pede para te decifrar, mas nunca concluí-la. Também sou assim Clarice – se me permite a intimidade (com todo respeito).
Sou uma mulher que busca o mundo, não apenas em um globo, mas o mundo nos gestos, na intensidade de um coração, nas dores e nas alegrias de uma alma, no diálogo com todos os seres vivos.
Ah... Como é bom conversar com meu peixe Bob: Ele me entende! Claro...isso não é ironia, isso é uma verdade apenas vivida por quem participa dessa linguagem, desse momento, desse momento.

Sou intensa e pouco compreendida,
Quero as flores
Quero os espinhos
Quero o amor
Quero sentir aquele calor que arde dentro de mim
Quero olhar o mundo com olhos de liberdade
Liberdade, eu te convido
Eu te ordeno a me amar
A me encontrar
Aonde estiver

Clarice você reconhece essas palavras!? Talvez não, essas são minhas. Uma leitora sua que entende um pouco do que você sentiu. Viver é tão efêmero que dói saber que estamos deixando a vida passar por nossos olhos, sem, contudo, abrí-los! Ai como diria alguns “que sentimento mais mundano”, mais é meu e isso ninguém me tira.

Sou asas, sou avião,
Sou pontos de interrogação
Sou uma flor no alto da montanha
Posso me chamar de Lírio
Ou de Paixão

Querida Clarice, vou te conhecer melhor. Acho que estou me apaixonando por suas tão verdadeiras, reais palavras. Preciso de você para continuar flutuando, sem os pés no chão, mas com a mão no coração.

Me entenda! Agora sua amiga e quero ser muito sua amiga.
Me perdoe se fui indiscreta e íntima demais, mas suas obras estão me chamando para estar ao seu lado...Como diz você mesma, não fui feita para ser entendida, nem concluída, mais para ser amada. Ou não. Ame se quiser, mas eu estarei sempre aqui decifrando letras, criando códigos, escrevendo nas entrelinhas.

Ah... Lembrei de outra frase. Um dos estudiosos de você Clarice disse que quando enviava seus textos para revisor, pedia que não mudasse nenhuma vírgula. Elas faziam sentido para você e deixariam de ser você. Pena que poucos compreendem que as nossas vírgulas, Clarice, estão no lugar certo.

Um abraço de uma nova leitora


5 comentários:

  1. Claudia querida, simplesmente espetacular o olhar que você teve sobre Clarice Lispector.
    Uma semelhança entre você é Clarice ambas tem uma ligação com a palavra de uma forma diferente, de uma maneira visceral.
    Admirando você!!! beijos
    Regina Gregório

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    1. Olá Regina! Que prazer imenso tê-la aqui no meu cantinho. E ainda tendo a honra de ter seu comentário. Obrigada querida! Tenho amado Clarice mais que em outras épocas de minha vida. Estou lendo com olhos de desejo de conhecê-la melhor. Também te admiro muito. E te espero sempre aqui.
      Beijinhos,

      Cláudia Helena

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  2. Ainda preciso ter esse encontro com Clarice!

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    1. Lívia, que bom você aqui. Me sinto honrado com sua leitura do post. Sei que nunca encontrarei Clarice por completo. Acredito que mesmo quem se dedica a estudá-la. Mas, desde a qualificação, senti que precisava me encontrar com alguém que me compreendesse um pouco. E as falas da Clarice me ensinam, me ajudam, me acalmam. Mais também não tenho o poder de deixar as vírgulas em seus devidos lugares, infelizmente.
      Super abraço e, sempre que tiver um tempinho, aparece aqui.

      Beijinhos,

      Cláudia Helena

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    2. Claudinha, que delícia de blog! divertido, despretensioso, intimista.

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