quarta-feira, 21 de outubro de 2015

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segunda-feira, 5 de outubro de 2015

A TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL E A TEORIA DA ATIVIDADE





A TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL E A TEORIA DA ATIVIDADE

Cláudia Helena dos Santos Araújo[1]


            A teoria histórico-cultural tem seu surgimento marcado pelo marxismo. Desta forma, é essencial que se realize uma retomada histórica e filosófica.
            A teoria marxista, observada em seus aspectos fundamentais, tais como a concepção materialista dialética da realidade, apresenta a visão de kark Marx (1818-1883), que teve sua obra determinada por fatos políticos, econômicos e históricos do contexto em que vivia. Esse momento, fortemente marcado pelo impulso desenvolvimento do capitalismo, é caracterizado por intensas mudanças na classe dos trabalhadores, que lutavam por transformações de cunho socialista. Essas reivindicações não eram favoráveis à burguesia, que sugeria transformações menos radicais. A partir desse contexto, a obra marxista se desenvolve, analisando o momento histórico, econômico, político e filosófico.
            A concepção marxista de homem remete a um ser que atua consciententemente sobre a natureza. É um homem que procura construir a si mesmo e satisfazer suas necessidades a partir da construção objetiva que realiza do mundo. Os homens se relacionam com a natureza, de onde se extrai os meios de produção e os objetos de trabalho, e se relacionam entre si, mediante as relações sociais de produção. Essa relação com a natureza se faz a partir do momento em que o homem extrai da mesma, os seus meios de produção e seu objeto de trabalho. Nessa conjuntura, o homem estabelece relações sociais com outros homens, criando a organização do trabalho. É o que chamamos de infraestrutura. Conforme Rosa e Andriani afirmam

 “juntamente com esta infra-estrutura desenvolve-se um conjunto de idéias que a expressam e servem para a reprodução do sistema. Este conjunto de idéias corresponde à superestrutura da sociedade, isto é, sua instância política e ideológica” (2002, p.262).

            Desta maneira, entende-se que a infraestrutura determina a superestrutura, ou seja, os homens são movidos pelas relações sociais, políticas e produtivas que estabelecem. Percebe-se o homem como produtor de bens materiais, de relações sociais, de conhecimento e de si mesmo.
É interessante afirmar que nessa perspectiva dialética têm-se como base da sociedade, as condições materiais reais que preexistem. Conforme a concepção materialista dialética da realidade “os fenômenos são constituídos e transformados a partir de múltiplas determinações que lhe são constitutivas... Concebe-se a realidade como matéria, havendo primazia do Ser sobre o Pensar” (Kahhale, 2002, p. 264).
            Chegando ao ponto necessário de nossa visão da teoria histórico-cultural e da teoria da atividade, é pertinente compreender em que consiste o processo de produção do conhecimento. Conforme a concepção analisada, este deve partir do real, gerando um movimento de transformação dialética que tem como prioridade a transformação e emerge a partir do princípio da contradição. Desta maneira, a produção do conhecimento ocorre a partir do real. Assim, tem-se a dialética como método de produção do conhecimento.
         A psicologia sócio-histórica surge no início do século XX, na União Soviética. É uma vertente teórica da psicologia fundamentada na concepção materialista dialética, tendo como base de suas proposições o conhecimento do homem e  sua subjetividade. Dentro dessa produção, destaca-se: Vygotsky (1896-1934), Luria (1902-1977) e Leontiev (1903-1979).
            Entender o seu processo de surgimento é de grande relevância para a compreensão de todo o estudo. Vygotsky propôs a construção de uma psicologia guiada pelos princípios e métodos do materialismo dialético. A sua obra é marcada pela concepção marxista de homem e realidade. Assim, Rosa e Andriani explica que “O homem constrói a si mesmo nas relações que estabelece com a realidade, na medida em que é determinado por esta, atua sobre ela e a transforma” (2002, p. 267). Luria e Leontiev continuaram sua produção teórica e a partir de então, conhecimentos foram se formando e solidificando bases teóricas no âmbito da Psicologia voltada ao materialismo-histórico. Os conhecimentos que foram e estão sendo construídos nessa vertente utilizam diferentes nomenclaturas para denominar a psicologia voltada ao materialismo-histórico. Alguns nomeiam como Psicologia Histórico-Cultural e um grupo de pesquisa da PUC/SP denominam como Psicologia Sócio-Histórica.
            A psicologia sócio-histórica fundamenta-se na concepção de homem como um ser histórico-social. O eu social é o homem que se constrói socialmente pelas relações. Ela ainda explica que a atividade humana permite que o indivíduo desenvolva a consciência (principal categoria de estudo da Psicologia Sócio-Histórica), apropriando-se da história e do seu objeto, inserindo-se no mundo das relações sociais, apropriando-se da linguagem como instrumento (signo). Desta maneira,
“a significação é construída na esfera social, de maneira que sua internalização dependerá da mediação externa, da relação com o outro. A transformação do social em subjetivo se dará sempre em um universo interpessoal, que se transforma em intrapessoal e intra-subjetivo...” (Rosa e Andriani, 2002, p.274/275).

            No que pertine aos fundamentos da metodologia científica conforme preceitos da psicologia sócio-histórica, Vygotsky desenvolve a necessidade de pensar questões relativas ao método de produção do conhecimento. Utiliza o método dedutivo no processo de conhecimento do homem. Ou seja, parte-se do geral para o particular. Desta maneira, tem-se como características do processo de produção do conhecimento: a construção de ideias a partir do momento empírico, a singularidade e os processos de relacionamento na produção do conhecimento, em que um constrói o outro.
            O pesquisador realiza variadas ações na compreensão dos dados, podendo desenvolver a pesquisa ação – onde o pesquisador insere-se na realidade ou grupo a ser estudado e trabalha junto com o grupo, tornando-se parte da totalidade –, e a pesquisa participante - há um plano de ação/intervenção organizado previamente pelo pesquisador, que o aplica como proposta e utiliza como instrumento no desenvolvimento de sua pesquisa.
            A partir da compreensão realizada sobre a perspectiva histórico-cultural, entende-se sua relevância na formação de um homem de consciência integrada e com práxis transformadora.
            O principal conceito desenvolvido na perspectiva histórico-cultural é o de atividade. Analisando sua origem, tem-se a noção da importância que tal conceito desempenha na psicologia soviética. A atividade é entendida como a base que explica a formação da consciência.
            A psicologia histórico-cultural foi influenciada por duas tendências, a saber: tendência da psicologia russa e da psicologia soviética. Nessa última, por conseguinte, destaca-se a filosofia marxista. E aponta-se uma relação que explica o processo interpessoal do ser humano, que por suas relações externas, transforma-se em intrapessoal. Ou seja, do interpsicológico para o intrapsicológico. Tal relação é notada a partir do esquema objeto  ó atividade ó sujeito, explicado pelo processo de construção da consciência a partir do meio externo para o meio interno, mediado pelas relações estabelecidas com outros seres. Essa psicologia foi aclamada como desenvolvimental. E como afirma Kozulin “ao chamar sua psicologia de ‘desenvolvimental’ (geneticheskii – desde a gênese), Vygotsky quis indicar muito mais do que uma mera análise do desdobramento do comportamento na ontogênese” (2002, p.118).
            As funções mentais abrangem as funções mentais inferiores e as funções mentais superiores. Vygotsky explica essas funções realizando uma distinção entre elas e apontando as funções mentais inferiores como capacidades de memória, percepção, entre outros e, funções mentais superiores, como a transformação dessas capacidades em um patamar mais avançado de desenvolvimento para o ser humano.
            Assim, a compreensão das funções psicológicas superiores abrange o estudo da linguagem em sua relação com o pensamento. E nessa retórica, Vygotsky aponta a transição do discurso egocêntrico para o interior.
            Na obra de A. N. Leontiev, o conceito atividade surgiu  em 1947. Ele apontava que no processo da atividade humana, um objeto perde sua naturalidade e emerge como resultado de experiência coletiva.
            Assim, são vários os teóricos que discutem o conceito de atividade apresentado por Vygotsky e Leontiev. Porém, conclui-se que esses estudos e pesquisas levam-se a um grande avanço para a psicologia em geral.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Rosa, Elisa Z. e Andriani. Ana G. P. Psicologia sócio-histórica: uma tentativa de sistematização epistemológica e metodológica. In: Kahhale, Edna M. P. (org). A diversidade da psicologia – Uma construção teórica. São Paulo: Cortez Editora, 2002.
Kozulin, Alex. O conceito de atividade na psicologia soviética: Vygotsky, seus discípulos, seus críticos. In: Daniels, Harry (Org.) Uma introdução a Vygotsky. São Paulo: Edições Loyola, 2002.




[1] Doutora em Educação (PUC Goiás). Professora e Pesquisadora no Instituto Federal de Goiás (IFG). Membro Grupo de Pesquisa KADJÓT. Email: helena.claudia@gmail.com

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