O
sentimento do mundo cabe em meu coração, ou não!?
Carlos
Drummond de Andrade apresenta uma visão de mundo “pouco otimista” em alguns de
seus poemas.
Nessa
obra, em seu poema “Sentimento do mundo” demonstra sentir-se disperso e traz,
em si, a recordação de uma guerra que entra em “confluência” com o amor.
Ainda
lembrando que Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira, Minas Gerais, ele
relata isso em “Confidência do Itabirano”. Conta seus anos vividos lá e seu
desejo de amar remanescente de Itabira.
Em
“Poema da necessidade” (muito bom) diz sobre os “precisos” que impomos às
nossas vidas. Precisamos casar, suportar, odiar, salvar, comprar, esquecer,
ler, estudar, entre tantos outros PRECISOS. Uma das apostas aqui que justifica
o nome desse poema “Necessidade”.
Há
ainda seu conto “O operário no mar”.
Seu
poema “Menino chorando na noite” relata o choro de um menino em uma noite lenta
e morna. Por que será esse menino chora? Chora em todos os cantos do mundo.
Em
“Morro da Babilônia” apresenta novamente o terror da guerra, um terror urbano,
os soldados, quartel, as vozes do morro.
Ah...
Como não falar “Congresso internacional do medo”, Carlos diz “Provisoriamente
não cantaremos o amor... Cantaremos o medo” (p.29). Ainda anuncia que não se
cantará o ódio, mais todos os medos e as flores nascerão amarelas e medrosas
sobre os túmulos.
Em
“Os mortos da sobrecasaca”, Carlos é sutil ao contar sobre o canto da sala com
o algum de fotografias intoleráveis. Muitos aqui podem se identificar com fotografias
como essas.
Que
vigor surge em “Brinde no juízo final”. Os poetas anunciam a hora do bonde e do
rádio. São poetas, não acadêmicos. Que coragem Carlos Drummond aqui realize
esse brinde.
De
um edifício se imagina o mar em “Privilégio do mar”.
E o
Rio de Janeiro... Leblon... E seus inocentes? Eles ignoram a areia quente em
“Inocentes do Leblon”.
A
“Canção do Berço” basta recitá-lo “Os lábios serão metálicos, civil, e mais
nada, será o amor dos indivíduos perdidos na massa e só uma estrela guardará o
reflexo do mundo esvaído” (p.40).
Há
ainda “Indecisão do Méier”, “Bolero de ravel”, “La possession du monde”.
Que
jogo de sentimentos surge em “Ode no cinquentenário do poeta brasileiro” onde
se encontra com a percepção das ilhas, do sol, dos trópicos, de uma violenta
ternura, de tragédias. Aqui surgem os carvoeirinhos raquíticos, os mortos do
Recife, o major veterano da guerra do Paraguai, Bentinho Jararaca, Christina
Georgina Rossetti... Aqui se deita sobre o sopro quente dos mundos.
O
mundo suporta as dores. Aonde chega o mundo em que diz segundo Drummond “Meu
Deus” (p.51) em “Os ombros suportam o mundo”. Aqui se deseja a vida apenas, sem
ilusão, sem mistificação.
E se
caminharmos de “Mãos dadas”? Pois se deseja cantar o mundo futuro, de uma
história, de um tempo, de pessoas. Como ficaria hoje Carlos Drummond de Andrade
ao observar o nosso mundo? Como seriam suas poesias?
Em
“Sentimento do Mundo” encontra-se ainda “Dentaduras duplas”, “Revelação do
subúrbio”, “A noite dissolve os homens” (dedicado a Portinari), “Madrigal
Lúgubre”.
Ah!
Como é bom ler “Lembrança do mundo antigo” quando ele diz “Clara passeava no
jardim com as crianças”. Nada era proibido, o verde era verde, nada se temia.
Mais se tinha jardins e manhãs.
O
relato histórico – lembrando que Drummond diz ser poeta e cantor de história,
de tempos – apresentado em “Elegia 1938”.
Será
realmente o mundo, um grande mundo, um mundo grande!? Não sei! Mais Drummond em
“Mundo grande” apresenta um coração que não cabe todas os sentimentos.
E
assim pernoita triste farol da Ilha Rasa em “Noturno à janela do apartamento”.
Indico
muito essa leitura. Apesar de estar ainda na fase de conhecimento,
encantamento, enfrentamentos e fragilidades com minha amiga (desculpem a
intimidade) Clarice Lispector.
Sentimento do Mundo – Carlos Drummond de
Andrade – 1940
Cia. das Letras – edição de bolso – 2012