Pensei em escrever um
escopo de ser humano. Ou melhor, um esquema para dizer sobre o ser humano. Não
consigo.Tem momentos que vejo alma
e luz no ser humano. Tem momentos que vejo sentimentos de perversidade e
vaidade.É bem isso que pode ser o
escopo: o bem e o mal!
Talvez por ser humano não
é possível fragmentar seus sentimentos, retirar uma identidade tão própria,
insígnia, singular e plural.Olho para mim e vejo bem
isso. Seria uma mentira dizer que não sinto desejo de coisas que não tenho, mas
se conhecer (tarefa árdua) te ajuda a perceber que o caminho para alcançar isso
é trabalhar, lutar...resistir a muitas vaidades da alma e corpo. No meu caso,
acho que coração ‘fala’ mais alto. Por muito tempo tive dificuldades de me
aceitar: jeito de boba (não confunda bom com bobo – aprendi isso com uma
professora de amor que tanto amo). Clarice Lispector me sintetiza tão bem em
sua crônica “Das vantagens de ser bobo”: “(...)O bobo, por não se ocupar com ambições, tem
tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase
sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa,
responde: "Estou fazendo. Estou pensando". Confesso que não consigo
ficar duas horas sem me mexer. Sou a boba sim tão bem ilustrada por Clarice.
O que é legal é quando você resolve aceitar que
tem uma identidade e personalidade tão somente sua e, ao mesmo tempo, essa
personalidade e identidade é coletiva. Sim, lutamos todos os dias para nos
tornarmos seres de maior autonomia, sermos amigos de verdade, pais incríveis
(aí cada um tem sua perspectiva de educação), filhos amorosos, profissionais
que estudam e atuam de forma íntegra e ‘excelente’. Lutamos por muitas coisas.
Já teve momentos em que olhei para dentro
(também é difícil, dói) e vi a quantidade de erros que cometi. Não dava para
voltar no tempo, mas dá para fazer diferente todos os dias. Perdi muito, mas,
sério, olho hoje e vejo que ganho em ser eu mesma. Um eu que muda agora
constantemente. Espera aí: não sou um ser inconstante! Mas tenho a luta da
análise e da realização de ações.
Hoje sei o quanto existe de amor, amor de
verdade, não o amor por admiração. Confesso que fiz isso. Interpreto como um
erro, mas respeito quem pense diferente.
Outra tortuosa lição de amor: respeitar que a
diversidade se dá em todos os lugares. Respeitar que o outro escolhe ou não
estar ao meu lado ou me permitir em sua vida. Isso é escolha gente, de verdade!
Respeitar que ninguém é obrigado a aceitar ou acreditar no que acredito, mas
respeitar é necessário. Podemos pensar diferente, mas sempre estarmos juntos.Estudo e trabalho porque gosto de verdade. Mas
não consigo curtir os momentos de vaidades dos outros. Acho chato àqueles que
passam por cima de você e de outros para ter o que tanto deseja. Como hoje sei
que o desejo é subjetivo, respeito isso também e sigo minha vida.Não se iluda: não dá para apagar lembranças que
te ensinaram tanto. Lembranças de dor que se transformaram em amor. A questão é
que o bobo como diz Clarice Lispector tem excesso de amor: “É quase impossível
evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso
de amor. E só o amor faz o bobo”. De verdade, AMO SER BOBA.
Aprendi que nem sempre o outro está disposto a
te ouvir (e nem precisa). O outro não é obrigado a te ouvir e isso não o torna
menos amigo, amiga, parceiro e parceira de vida. Levei tempo e feri pessoas até
aprender isso.Rasgar-se, despir-me aqui para quem ler é quase
um momento de confissão. Não acredite ser fácil! E nem acredite que estou me
expondo, estou tentando clarificar sentimentos inauditos.Não consigo expressar tudo que sinto ainda.
Estou em processo, em movimento. Só digo sobre o escopo de ser humano é que o
humano é ser. Ser que erra e luta para fazer diferente, cada um em seu tempo.
Ah...falta tanto para aprender. Vou concluir
minha missão ‘por aqui’ e não vou ter aprendido ainda. Basta lembrar: sou ser
humano! Humano Ser!
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